Fundos estruturados e proteção cambial: quando faz sentido?

Rodrigo Balassiano destaca que a proteção cambial em fundos estruturados é estratégica para mitigar volatilidade em ativos dolarizados.
Igor Semyonov By Igor Semyonov
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Com o crescimento do mercado de capitais e o avanço da sofisticação nos produtos financeiros, muitos gestores passaram a lidar com uma questão central: fundos estruturados e proteção cambial: quando faz sentido? Em operações que envolvem ativos expostos a moedas estrangeiras, o uso de hedge pode ser estratégico, mas não é isento de implicações. Rodrigo Balassiano, especialista em estruturas de crédito e fundos complexos, destaca que a decisão exige avaliação técnica rigorosa, sempre considerando os objetivos do fundo, os custos envolvidos e a expectativa dos cotistas.

Fundos estruturados e proteção cambial: quando faz sentido no contexto da exposição ao câmbio?

A proteção cambial costuma ser considerada em fundos com ativos atrelados a moedas estrangeiras, como recebíveis dolarizados, investimentos no exterior ou contratos comerciais com variação cambial. O hedge, nesse contexto, busca neutralizar o impacto da flutuação cambial sobre o valor da carteira. Em tese, é uma forma de preservar capital e garantir maior previsibilidade. No entanto, nem sempre o cenário justifica o custo de proteção. Há casos em que a variação cambial representa uma oportunidade de valorização adicional, sobretudo em períodos de enfraquecimento da moeda local. Rodrigo Balassiano observa que a decisão de proteger ou não deve estar atrelada ao horizonte de investimento, ao perfil dos cotistas e à política de risco adotada desde a estruturação do fundo.

Além disso, a estrutura de custos precisa ser cuidadosamente avaliada. Contratos futuros, swaps cambiais ou NDFs, frequentemente utilizados para esse tipo de proteção, têm custo variável, que pode ser influenciado por fatores como diferencial de juros entre países e percepção de risco. Em determinados momentos, o preço do hedge é tão elevado que pode comprometer parte relevante da rentabilidade projetada. É por isso que o hedge não deve ser uma prática padrão, mas sim uma decisão tática, reavaliada periodicamente conforme o cenário.

Risco x previsibilidade: o equilíbrio estratégico

A principal vantagem do hedge está na previsibilidade dos resultados. Fundos que precisam cumprir obrigações periódicas com valores definidos, como pagamentos de cotas sêniores ou metas atuariais, podem se beneficiar da proteção. A previsibilidade também reduz a volatilidade da cota, aspecto relevante para investidores institucionais com baixa tolerância a oscilações. Por outro lado, fundos mais tolerantes ao risco, voltados ao longo prazo, podem aceitar a exposição cambial como parte de uma estratégia de diversificação. Rodrigo Balassiano ressalta que, em ambos os casos, o importante é que a escolha esteja clara desde o início — e seja coerente com o mandato do fundo.

Utilizar hedge cambial em fundos estruturados faz sentido quando há exposição relevante ao mercado externo, explica Rodrigo Balassiano.
Utilizar hedge cambial em fundos estruturados faz sentido quando há exposição relevante ao mercado externo, explica Rodrigo Balassiano.

Vale destacar que, ao optar pela exposição cambial, o fundo está sujeito tanto a perdas quanto a ganhos adicionais, dependendo do movimento da moeda. Em um cenário de valorização do dólar frente ao real, por exemplo, o fundo pode apresentar retorno superior ao projetado. Em contrapartida, se o real se fortalece, os ativos dolarizados podem se desvalorizar, impactando o desempenho. Assim, a decisão precisa considerar o apetite ao risco do investidor e os objetivos de longo prazo da carteira.

Comunicação com o investidor e governança

A escolha sobre manter ou não proteção cambial deve ser bem comunicada ao investidor. O desconhecimento sobre os efeitos do hedge — ou sua ausência — pode gerar frustração e desalinhamento de expectativas. Segundo Rodrigo Balassiano, a governança eficiente exige transparência nos relatórios, clareza nos regulamentos e atualização constante das políticas de investimento. Um fundo bem estruturado pode optar por realizar hedge parcial, dinâmico ou até mesmo não proteger, desde que haja disciplina na execução e consistência na estratégia adotada.

Conclusão

Entender fundos estruturados com exposição cambial vai além de avaliar risco e retorno. É uma decisão que envolve planejamento, análise de cenário e profundo alinhamento com os objetivos do fundo e seu público-alvo. Como destaca Rodrigo Balassiano, o hedge não é uma obrigação, mas uma ferramenta tática — e seu uso inteligente pode ser determinante para o sucesso da estratégia.

Autor: Igor Semyonov

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