A recente aprovação de uma resolução pela Assembleia Mundial de Saúde marca um momento decisivo no enfrentamento ao marketing digital de fórmulas infantis. Esse tipo de publicidade, que se aproveita da vulnerabilidade de pais e responsáveis em momentos críticos da primeira infância, passa a enfrentar um cerco mais firme a partir das diretrizes internacionais acordadas. O crescimento das redes sociais e plataformas digitais facilitou a disseminação de conteúdos publicitários disfarçados de informação, colocando em risco práticas recomendadas como a amamentação exclusiva nos primeiros meses de vida. A medida da assembleia visa proteger o direito das famílias a receberem informações baseadas em evidências, sem interferência de interesses comerciais.
Ao se debruçar sobre esse tema, os países membros da Assembleia Mundial de Saúde sinalizam um esforço coletivo para frear práticas de marketing que, embora sofisticadas, não estão alinhadas aos princípios da saúde pública. Empresas do setor de nutrição infantil frequentemente utilizam estratégias de influência digital, como o uso de influenciadores e anúncios segmentados, para promover seus produtos a mães em fase de amamentação. A nova resolução busca garantir que a comunicação sobre alimentação infantil não seja manipulada por interesses econômicos, criando um ambiente mais ético e responsável nas plataformas digitais.
É importante destacar que essa resolução não surge de forma isolada. Ela se ancora em um movimento global contínuo, alinhado às recomendações do Código Internacional de Comercialização de Substitutos do Leite Materno, promovido pela Organização Mundial da Saúde desde os anos 1980. Agora, o foco está na adaptação desse código à realidade digital, reconhecendo o impacto profundo que a internet exerce sobre as decisões familiares. A Assembleia Mundial de Saúde, ao endossar essa resolução, dá um passo essencial para fortalecer políticas públicas voltadas à proteção da infância.
No Brasil, esse avanço ressoa de maneira ainda mais significativa. O país já conta com leis e normas rigorosas que proíbem a promoção comercial de fórmulas infantis, especialmente no que se refere à primeira infância. A convergência entre as normas nacionais e a resolução da Assembleia Mundial de Saúde reafirma o compromisso do Brasil com a proteção da amamentação. O país tem histórico ativo na defesa do aleitamento materno como direito da criança e dever da sociedade, e as ações internacionais fortalecem ainda mais esse posicionamento.
O impacto do marketing digital na percepção dos pais sobre fórmulas infantis é profundo. Muitas vezes, as mensagens veiculadas transmitem a ideia de que esses produtos são equivalentes ou superiores ao leite materno, o que contradiz evidências científicas consolidadas. A resolução aprovada tem o potencial de limitar essas práticas, exigindo mais transparência e responsabilidade nas mensagens que chegam às famílias. Essa nova abordagem poderá reduzir significativamente a exposição de mães e bebês a estratégias persuasivas que, por trás da aparência informativa, escondem interesses comerciais.
Com a expansão da internet, surgem novos desafios para a regulamentação de práticas de publicidade. A Assembleia Mundial de Saúde reconheceu que, para proteger a saúde infantil, é preciso atualizar os mecanismos de vigilância e controle do marketing de fórmulas infantis. A resolução incentiva os países a desenvolverem tecnologias e políticas públicas capazes de identificar, monitorar e coibir esse tipo de conteúdo nocivo. Além disso, reforça a importância de campanhas educativas que valorizem o aleitamento materno como uma prática essencial e insubstituível.
A iniciativa da Assembleia Mundial de Saúde também pode servir como estímulo para que plataformas digitais assumam maior responsabilidade sobre os conteúdos que hospedam. Ao aderirem a diretrizes mais rigorosas, essas empresas terão a oportunidade de contribuir para a promoção da saúde global, estabelecendo critérios mais éticos para anúncios relacionados à alimentação infantil. A colaboração entre governos, sociedade civil e setor privado será determinante para que os efeitos dessa resolução sejam efetivos e duradouros.
Por fim, a aprovação da resolução pela Assembleia Mundial de Saúde representa uma conquista significativa para todos os que lutam pela saúde e bem-estar das crianças. Mais do que uma norma, trata-se de um posicionamento político e ético diante da crescente influência do marketing digital na vida das famílias. A proteção à amamentação, a promoção de escolhas informadas e a defesa de políticas públicas baseadas em evidências científicas ganham um novo fôlego com essa decisão. O desafio agora é transformar a resolução em ações concretas, capazes de gerar mudanças reais no cotidiano das pessoas.
Autor : Igor Semyonov